por que ter boas maneiras ?

Oito horas da manhã, Universidade Federal da Paraíba. Aula de tema difícil. Para completar, um grupo conversa alto fora da sala. Nós, os alunos, não sabemos se ouvimos o professor ou o pessoal se esgoelando no pátio.

Quando o professor não agüenta mais, vai lá fora e pede silêncio. Volta e o barulho continua. Dez minutos depois, sai novamente e pede silêncio. Volta e o barulho continua. Pouco tempo depois, interrompe mais uma vez a aula pra pedir silêncio ao grupinho. Sem sucesso.

O barulho só pára quando um aluno (adivinhem quem) sai da sala desesperado e diz ao pessoal: “Gente, pelo amor de Deus, eu não tô entendendo nada nem com o silêncio. Imagine com a conversa de vocês”.

Aí eu me pergunto: de onde vem essa estética da falta de educação? Nota-se claramente que os alunos sentem prazer em não ter boas maneiras. Chegam à aula quando querem, sem dizer “bom-dia”, “perdão” ou “com licença”. Colocam os pés (descalços!) em cima das carteiras. Bocejam na cara do professor. Mantêm conversas paralelas em voz alta. Saem sem pedir licença ou se desculpar.

O pior é que nem sempre é por ignorância. Vê-se que há uma intenção de desafiar o professor. De humilhá-lo. De ridicularizá-lo. A falta de educação torna-se um sinal de força. As boas maneiras são para os babacas.

Por quê? Bom, pra responder a isso, só mesmo um estudo antropológico, filosófico ou sei lá mais o quê. Quem sou eu pra tentar encontrar respostas para uma questão tão complexa? Então, vou falar apenas como cidadã: eu acho as boas maneiras o máximo! Como elas facilitam a nossa vida!

Ah, como é bom respeitar o espaço dos outros e ver nosso espaço ser respeitado! Como é bom dizer e ouvir “bom-dia”, “boa-noite”, “perdão”, “desculpe”, “com licença”! Como é agradável estar em um local onde as pessoas se comportam bem! Em que tudo flui com doçura e colaboração mútua.

Isso não quer dizer que a gente seja bem-educado 100% do tempo. Impossível! Às vezes, a gente está aperreado demais pra pensar nisso. Outras, estamos zangados mesmo e não queremos ser educados, oras! Outras ainda, não conhecemos tal e tal regra de educação e pecamos por ignorância. Mas que sejam exceções, né?

E não venham me dizer que ter educação é ser hipócrita. É justamente o contrário. Falta de educação proposital também é um sinal de hipocrisia e covardia. Significa: “Estou num lugar onde não quero estar, com pessoas de quem não gosto e que não respeito, fazendo algo que não me interessa. Entretanto, não tenho colhão pra sair daqui e ir cuidar da minha vida. Sinto-me diminuído. Logo, agrido”.

Só pode ser isso. Porque veja bem: você conhece alguém que queira atrapalhar uma aula que está lhe interessando? Duvido. Fica ali quietinho, com o olho butucado no professor. Se brincar, até participa da aula, dando sua opinião, fazendo perguntas e enriquecendo as discussões.

No final das contas, mais uma vez, a regra é o amor. Amar o que faz. Fazer o que ama. Aí, vem o prazer, a vontade de trabalhar, de colaborar, de ver as coisas darem certo. Isso é ficar feliz, oras! É viver segundo as suas convicções. E, tirando os casos patológicos, quem é que pensa em agredir quando está feliz?